terça-feira, 7 de setembro de 2010

La vie en rose




"Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa e tem na mão todas as cartas do baralho, a nós compete-nos inventar os encartes com a vida..."

José Saramago
A vida é curta demais. O que vem depois dela? Chamam de morte, mas ninguém sabe. Só o que se sabe da vida e que ela é frágil demais, delicada, bela demais. E que nenhum pôr-do-sol é igual a outro. Não digo que ela é curta demais para nós, que somos jovens. É curta para os velhos, também. Para eles o tempo parece passar mais rápido. Digo isso porque sei. Porque ouvi.

Uma vez me disseram que morrer jovem é permanecer belo. Eu discordo, como costumo discordar de quase tudo. A velhice tem sua beleza, seu charme. Às vezes me sinto estúpida. Passo noites em claro imaginando os tipos de morte que eu poderia ter. Os objetos que eu deixaria, para quem e por quê. A dor agonizante de um último suspirar. Ou o meu velório e as pessoas que estariam lá. As que chorariam e as que não. As que pegariam em minhas mãos, as que consolariam minha família, as que não iriam porque não gostariam de ter minha éltima lembrança naquele estado. (Não tentem isso em casa. É desesperador.) Eu sei. Estupidez demais para uma pessoa que deveria viver e agarrar para si cada momento que lhe aparecer pela frente e transformá-los em belos, memoráveis, intensos. Para que durante as noites em claro eu pense que, se de súbito eu morrer, tive um dia bom. Dei um beijo na face de cada um dos meus pais, um afago em meu cachorro, um 'durma bem' para meu irmão, uma risada com meu sobrinho e um 'eu te amo' para meu namorado. Se eu me lembrasse de fazer estes simples atos todos os dias, talvez morresse feliz.

O que mais me incomoda na morte não é o desconhecido, a dor ou a forma, mas sim a pendência. O ato não esclarecido. O perdão não concedido. A frase entalada na garganta que nunca mais vai sair. A morte não manda telegrama, aviso prévio ou dez dias para que você resolva seus problemas. Nada é certo nessa vida. Mas eu sei que me sinto muito mais em paz comigo mesma quando não tenho pendências com alguém que amo.

Um conselho? Deixe seu legado. Sua ação boa para com a humanidade. Não precisa ser algo grandioso ou famoso. Mas deve ser notável e belo. Uma carta, uma música, uma filosofia de vida, um cheiro, uma sensação, um poema. Um pedido de desculpa move o mundo. Somos tantos, tão iguais e tão diferentes. Mas temos a mesma humanidade desde que o mundo é mundo. Quando fizer alguma coisa - qualquer coisa - realmente faça. Desfrute do momento. Abuse dos sabores, cores e sensações de cada ato que fizer, por menor que seja. Espontaneidade é liberdade. Não que eu faça tudo isso. Eu não faço. E dói muito em mim reconhecer isso. Mas vou me esforçar para fazer o melhor, sempre.

Não escreva que a vida é breve na parede de seu quarto ou no espelho como forma de lembrar-se disso todos os dias. Se for para escrever, escreva que a vida é bela. E que não deve, em hipótese alguma, ter seus segundos desperdiçados. Somos o que somos: e não há meios para mudar. E, já que estamos aqui, saibamos aproveitar da melhor maneira possível. E hoje? Já olhou o céu e reparou como é belo o movimentar lento das nuvens? Deu bom dia para alguém? Um sorriso a um estranho na rua? Sentiu o ar passar pelos seus pulmões? Pediu desculpas? Agradeceu? Sentiu, mesmo, o sabor da comida, o frescor da água? Cheirou uma flor? Viu o pôr-do-sol? Contou uma história? Porque a vida é curta demais. E o tempo não nos concede pausas.
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Mais umas das insanas melodias de Nina....sr adoro-la..!

6 comentários:

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Cada dia é uma importante bênção. Cada momento precisa ser bem conquistado e compartilhado. Acho que o grande segredo estar em tornarmos tudo em acontecimentos marcantes, mesmo que aparente não significar nada. O segredo é a nossa postura com a vida que realmente faz a diferença, o elo que permite unificar-nos numa essência mais plena.

Tratar a vida com mais respeito é o que há.

=)

Beijos.

É importante que deixemos sim esse legado, todos os pequenos elementos que consideramos belos, encantadores e imensamente significativos. A vida é curta para ficarmos a ver os dias passarem.

O essencial é tornar cada minuto, numa lembrança eterna, só assim vamos tornar a nossa vida mais plena, mais completa.

E outra, cada época tem o seu esplendor, o grande cálice capaz de sustentar as nossas principais aspirações, e guardar nossas principais vivências. Cada época nos permite emanar um perfume diferente.

Clara disse...

É, a vida é curta mesmo e isso me dá tanta ansiedade! Às vezes eu penso também na morte e o que sinto é uma mistura de medo e ciúmes. Medo de como vou morrer, ciúmes do que deixarei pra trás e pela certeza de que 'a vida sempre continua', eu esteja aqui ou não.

Gostei muito da sua mensagem, 'A vida é bela'. É verdade, neh? Por mais que a todo momento tentem nos convencer que a vida é dura e feia, ela é bela e o melhor é teimar nisso.

Anônimo disse...

oiii, estou d volta!
eu tinha desfeito o meu blog
está aki o novo, com o mesmo endereço: http://annapaulabloise.blogspot.com/
bjos

:: Mari :: disse...

Olá,
Primeiro grata pela visita no meu blog. Será sempre bem vinda por lá.
Gostei demais do teu.

O texto é muito bom e envolvente.
Aprendir a duras penas que preciso viver cada dia como se fosse o ultimo, não penso muito na morte, mas sim viver cada momento, seja ele bom, ótimo! Se for ruim, busco proveito pra aprender algo nele... No mais eu sou feliz.

BeijÃo

Brunno Leal disse...

Lindo texto!

São dois lados: Já que a vida é uma e curta, a poupamos ou extravazamos?

Beijos!

Lia Araújo disse...

menina...obrigada pelo carinho, viu?
Bom está aqui tb!